A igreja
de Olival Basto nasceu, como certamente a generalidade das que existem no nosso
país, do sonho transformado em realidade, de um grupo de pessoas, neste caso
congregado por um cristão empenhado, de seu nome F. Gumersindo Moralles.
Com efeito, este senhor, não obstante ser residente em Olival Basto então
pertencente à freguesia da Póvoa de Santo Adrião, frequentava a Igreja de
Odivelas, cujo pároco era o senhor padre João de Sousa, a quem manifestou
interesse em que existisse nesta localidade um templo católico, que servisse a
emergente comunidade, e para isso solicitou a possível colaboração daquele
eclesiástico que de pronto se disponibilizou.
Assim
se realizaram as primeiras reuniões presididas pelo senhor padre João, onde se
procurou constituir um grupo de trabalho que dinamizasse os primeiros passos.
Concomitantemente foi acontecendo Igreja, com recitação do terço e celebração
da palavra, num residência devoluta, situada no rés-do-chão do edifício da
esquina das ruas São Tomé e Príncipe e Damão, cedida pelo seu proprietário.
Uma
vez a ideia cimentada, era altura de pô-la em prática e assim havia que saber
onde seria erigida. Terreno disponível havia pois o bairro habitacional
limitava-se a três ou quatro ruas existentes entre a rua Angola e a São Tomé e
Príncipe que acabava onde hoje existe a rua Açores. Tudo o mais eram terrenos
ainda não urbanizados onde outrora existiram hortas, as famosas hortas fora de
portas de que se ouve falar.
Contactado
o proprietário e apresentada a ideia, de imediato foi dito que fizessem a
igreja onde achassem mais conveniente, pois o terreno seria ofertado.
Era
tempo de pôr mãos à obra, embora os fundos necessários não passassem de poucos
milhares de escudos provindos da quotização dos então ainda poucos aderentes.
Mas foi o suficiente para pagar aos operários especializados os primeiros
salários, porque quanto aos serventes, cada um foi colaborando como podia e
sabia. Já no que respeitava aos materiais, aproveitando os muitos contactos que
possuía com empreiteiros, dado o facto de ser fiscal camarário, o senhor
Moralles foi obtendo graciosamente o produto de demolições, tais como tijolos,
portas, janelas, madeiramento para o telhado e as próprias telhas. Mas porque
eram fruto de demolições, havia que recuperá-los como por exemplo limpar os
tijolos da argamassa que os envolvia, trabalho penoso muitas vezes executado
pela sua própria esposa, já quase invisual, mas que possibilitou que as paredes
se fossem erguendo.
Porque
os recursos financeiros depressa se esgotaram, organizaram-se alguns
espectáculos dentro do que já existia da obra, onde colaboraram graciosamente
alguns artistas convidados, entre os quais a fadista Maria Teresa de Noronha, o
que possibilitou a angariação de mais alguns fundos para o prosseguimento da
construção da única nave do corpo da igreja e dos anexos destinados à
residência do futuro pároco.
E
assim, com muitas vicissitudes embora, mas com a ajuda de Deus, a obra surgiu,
eram decorridos os primeiros anos da década de sessenta do século XX, para ser
dedicada, por sua eminência o senhor cardeal patriarca D. Manuel Gonçalves
Cerejeira, a Nossa Senhora de Fátima, conforme desejo do povo do Olival Basto.
Para
se ter noção de quão espartanas eram as instalações, pode-se destacar das
palavras então proferidas por sua eminência, que este era o templo mais simples
e pobre de quantos tinha até então dedicado, mas que essa pobreza iria
certamente ser colmatada pela riqueza da fé dos fiéis que tinham tornado
possível a existência de mais uma casa de Deus.
Foi
o senhor padre Manuel Rodrigues, então pároco da Póvoa de Santo Adrião, o
primeiro e único sacerdote a residir nos anexos da igreja mas, dada a manifesta
insalubridade dos mesmos, relacionada com a precariedade da construção, residir
em tais circunstancias tornou-se praticamente impossível, o que levou a que as
ditas instalações deixassem de ser utilizadas como residência, para passarem a
servir de casa mortuária e salas para catequese.
Precariedade
foi sempre uma palavra associada a este templo, de tal modo que, pela razão
simples e espontânea como foi doado o terreno onde se encontra edificado,
ninguém se lembrou de obter a competente escritura e consequente registo, o que
motivou que, durante muitos anos, fosse considerado clandestino, só se tendo
noção desta situação aquando das obras de beneficiação e restauro.
Não
é uma obra de arte, mas sim uma obra de fé e de querer que, edificada com
carácter provisório, se manteve inalterada até ao ano de 2002, data em que a
degradação e o risco de colapso levaram à necessidade de chamar, mais uma vez,
o povo do Olival Basto, agora em colaboração com as entidades oficiais, sob o
patrocínio do actual pároco, senhor padre Luís Ferreira, a dizer presente na
recuperação deste templo que, cremos, se irá manter por muitos mais anos.
(1961)
retirado de: http://www.paroquiapsadriao.com/igrejaOlival.html
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