quarta-feira, 8 de abril de 2009

Mosteiro de São Dinis (II)



Outra das justificações que merece ser de considerar, para a construção do mosteiro, é a que consta na carta de dotação. Diz o monarca: “...Nós, D. Dinis, pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve, com nossa mulher a Rainha D. Isabel e com os nossos filhos Infante D. Afonso, filho primeiro e herdeiro, e Infanta D. Constança, em honra de Deus e da Virgem Santa Maria e de toda a corte celestial e especialmente em honra e louvor de S. Dinis e S. Bernardo, por nossas almas, dos Reis que antes de nós foram, e remimento de nossos pecados, e de nossos sucessores, fundamos, e fazemos de novo em a nossa câmara de morada, que nós havíamos em termo da nossa cidade de Lisboa, em lugar que é chamado Odivelas...”(1)
Com toda a clareza afirma D. Dinis que a obra é feita em “honra de Deus, da Virgem Maria e ainda de S. Dinis e S. Bernardo, por sua alma e de seus familiares e em remissão dos seus pecados”. Esta é uma razão não menos importante, considerando a mentalidade daquele tempo. Mas há mais um motivo e que, na minha opinião (2) terá sido o verdadeiro, ou pelo menos, o mais forte:
“O intento que El-Rei teve para recolher nele religiosas... foi, ao que parece, porque tinha duas filhas bastardas, que desejava acomodar no estado de Religião, e a esse fim fundou junto à corte de Lisboa, este mosteiro, na qual uma dela tomou hábito...
Que fosse esta a causa ao menos parcial de se fazer o mosteiro... não parece pouco conforme à boa razão. (2)
O próprio autor da “Monarquia Lusitana”, frade cistercense, é de parecer que é “conforme à boa razão”, ser esta uma das causas, senão a causa principal, da fundação do Mosteiro de Odivelas.
Se assim foi, como interpretar a história do urso, ao que parece, contada pelo próprio rei? Parece-me que seria difícil obter o monarca, a aprovação da Corte e, em particular, da Igreja e da Ordem de Cister, se declarasse abertamente que desejava fundar uma casa religiosa para nela “acomodar” as filhas naturais. Um milagre, era uma justificação que não comprometia ninguém, enaltecia o rei e agradava a todos. D. Dinis provou que, além de excelente poeta e trovador, era também um talentoso contador de histórias e ainda um diplomata de reconhecido mérito.


(1) – Frei Francisco Brandão, Monarquia Lusitana, V parte, p. 219
(2) – Ibidem, p. 221 v.

Fonte: Páginas 34 e 35 do livro: “Odivelas - Uma viagem ao Passado” de Maria Máxima Vaz

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